Maré de temores


- Desculpe-me vovó. É que eu passei por uma daquelas crises adolescentes, eu precisava me afastar, mas estou de volta, prometo. Te amo. - Desliguei o telefone, afobada. A única explicação que eu pudera dar era a de que eu tivera uma crise adolescente, uma revolta. Se eu tentasse dizer toda a verdade, ninguém jamais conseguiria me entender. Eu não menti, o que se passa dentro -dentro de mim, não é muito diferente do que eu arranjara para falar. Mas se tinha uma opção que teria de ser excluída, seria essa da crise adolescente. É que de repente senti que eu não prestava, senti que devia me afastar das pessoas que mais amo na vida, das pessoas que mais me amam. Menti, impiedosamente, eu menti. Fui por algumas longas semanas demasiado fria. Ando pelas ruas como uma criminosa assustada, com medo de a qualquer momento, esbarrar em um policial. É que aqui dentro, uma voz gritava desesperadamente: afaste-se. E eu me afastei. Mas eu volto, eu voltei, o que é nosso nunca mergulha por inteiro. Nunca se afoga, sempre sobra ar para respirar, sempre nada até a praia. E volta, vai voltando, devagar. Devaneia, devagar...

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