Superfície canibal


O que foi aquele estado de vida que me fez amar o inverno, achar os dias cinzas os mais lindos do mundo e a chuva a sensação mais gostosa que existe? Houve uma época em que eu gostava do verão, talvez pela inocência da alma de uma criança, em achar que os dias são sempre bons e que se algo atrapalhar, você pode bater o pé e fazer uma breve pirraça para tudo se resolver.
Houve um tempo em que eu acreditava em tudo o que me diziam, que no fim do arco-íris existia um pote com ouro, que o amanhã seria melhor que hoje. Eu acreditava em coisas bonitas e sempre tinha a esperança pura, aquela que não carrega a consciência de que coisas ruins existem.
E quem sabe me dizer se daqui uns anos, quando eu me lembrar dos tempos de agora, falarei deles com tamanha nostalgia ou apenas com tristeza? As pessoas tem a mania de comparar os dias de ontem, com os dias de hoje, mas a verdade é que os tempos dependem das pessoas, que infelizmente estão cada vez piores.
E porque será que mesmo sabendo que esperar por coisas ou pessoas, pode estragar tudo, continuamos a esperar? Só de pensar em não pensar muito no assunto, já estamos pensando. Qual será a chave para uma sobrevivência sem esses egoísmos, sem essas esperas incompreensíveis? Passamos por cima da vida, do tempo, dos outros e de nós mesmos.

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