Resenha: O Oceano no Fim do Caminho

O Oceano no Fim do Caminho

Autor: Neil Gaiman

Editora: Intrínseca

202 páginas.

Classificação: ☆☆☆☆

Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino.
Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.

O livro começa com um homem de meia-idade seguindo à um funeral. De volta à cidadezinha onde cresceu, Sussex, na Inglaterra. Esse homem dirige até o local onde morou aos sete anos de idade. A casa, portadora de tantas lembranças, fora há muito tempo demolida. O lugar, desprovido agora de sentimentos, leva o protagonista a seguir até o fim da estrada, onde localiza-se a fazenda das Hempstock (avó, mãe e filha), local carregado de memórias abafadas. 

" – Ninguém realmente se parece por fora com o que é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito mais complicadas que isso. É assim com todo mundo." Página 129.

A filha - Lettie Hempstock - foi a melhor amiga desse homem na infância. Mas, o que ele lembra é que a garota foi embora para longe e que costumava chamar o lago de patos no fim da fazenda de "Oceano". Ao sentar-se em frente ao lago, o homem começa a vasculhar suas lembranças, e, a partir daí a história é narrada.

Sobre a perspectiva do protagonista, aos 7 anos de idade, acompanhamos a morte de um hóspede de sua família "O minerador de Opala", evento que desencadeia fatos misteriosos. Após uma sequência de situações estranhas, o menino vai à procura de Lettie, sua amiga de 11 anos, que demonstra estranho conhecimento sobre a onda de mistério. Fatos perigosos, um universo sobrenatural e a existência de seres enigmáticos dispostos a interferir na realidade das pessoas, rondam a narrativa.

Cada vez mais próximo das Hempstock, mulheres com dons curiosos e vindas de outra época, o garoto luta contra o sobrenatural e a favor do bem estar de seu mundo e sua realidade.

"Mas eu não estava com medo, e não saberia lhe dizer por quê. Confiava em Lettie, da mesma forma que confiei quando saímos à procura da criatura de farrapos tremulantes naquele céu alaranjado. Eu acreditava nela, e isso significava que nada de ruim me aconteceria enquanto estivesse ao seu lado. Eu sabia disso do mesmo jeito que sabia que a grama era verde, que as rosas tinham espinhos afiados e lenhosos, que cereal matinal era açucarado." - Página 133.

Essa é a primeira obra que leio de Gaiman e fui bastante surpreendida. Sinceramente, é o livro mais complicado que já resenhei. 

A fuga da narrativa convencional e a mistura da fantasia à elementos reais dão um tom de originalidade à obra. Certos fatos, como os citados no prólogo, nunca são explicados, ponto onde acredito que o livro peca. E certas frases e momentos misteriosos podem acabar deixando o leitor confuso, exigindo máxima atenção a cada linha.

De qualquer forma, é uma obra inovadora e cativante. Só mesmo lendo para compreender todo o mistério e sua linha de raciocínio. Recomendo!